(1921) Man Ray, Berenice Abbott.
Que profunda e complexa expressão de tristeza! Acredito que o efeito expressivo se consolida ainda mais graças ao verniz prateado que torna tudo fascinantemente brilhante e maravilhosamente sedutor. Ao se estabelecer como elemento de contraste ao negrume da imagem, esse elemento de elegância faz a tristeza da modelo ganhar um certo ar de mistério, típico dos filmes noir, como se o brilho nudificasse a marca de uma culpa, oculta nas sombras gravadas ao fundo - signo do passado -, marcando a distância com o rosto real, suavemente sorridente, como se indicasse a presença libertária do arrependimento. Através da expressão ao mesmo tempo cúmplice, triste e levemente maliciosa, quase suplicante, a mim esse grande retrato simboliza a passagem vincada do tempo, da escuridão carregada das sombras do passado ao brilho possível de um futuro apenas sugerido, mas encarnado na ocasionalidade da presente troca de olhares, entre a modelo e o seu espectador.