escreverás meu nome com todas as letras, com todas as datas,
- e não serei eu.
repetiras o que me ouviste, o que leste de mim, e mostrarás meu retrato,
- e nada disso serei eu.
dirás coisas imaginárias, invenções sutis, engenhosas teorias,
- e continuarei ausente.
somos uma difícil unidade, de muitos instantes mínimos.
- isso seria eu.
mil fragmentos somos, em jogo misterioso, aproximamo-nos e afastamo-nos, eternamente.
- como me poderão encontrar?
novos e antigos todos os dias, transparentes e opacos, segundo o giro da luz,
- nós mesmos nos procuramos.
e por entre as circunstâncias fluímos, leves e livres como a cascata de pedras.
- que mortal nos poderia prender?
quarta-feira, 30 de janeiro de 2008
quarta-feira, 2 de janeiro de 2008
Vidas de Entremeio
Pelo título, o trabalho do historiador norte-americano, Leo Spitzer, parece pretensioso e extremamente amplo: "Vidas de Entremeio: assimilação e marginalização na Áustria, no Brasil e na África Ocidental (1780-1945)". Contudo, a leitura deste livro não deixa de revelar um esforço dos mais interessantes de Spitzer em apreender, numa perspectiva comparada, trajetórias em diferentes contextos histórico-sociais, no sentido de analisar a experiência da marginalização de atores que vivenciaram uma inscrição precária em determinados setores dos grupos dominnates de seus respectivos lugares: ou como o autor prefere dizer, personagens cujas vidas foram percebidas como pertentecentes a "dois mundos"; sem, contudo, pertencer integralmente a nenhum deles. No Brasil, destaca a trajetória de André Rebouças,na metade do século XIX, descendete de negros escravos; na África, em Serra Leoa, de Joseph Boston May, libertado em alto mar pela esquadra imglesa, quando, ainda criança, se encontrava num navio negreiro, com destino para Salvador (Brasil). Posteiormente, apadrinhado pelo missionários ingleses, transforma-se num importante "civilizador" dos africanos à doutrina cristã; por fim, na Austria, a família judia Sweig-Brettauner, no século XIX, e seus "embaraços sociais e culturais", quando instados a se reeducarem socialmente, no sentido de dissimularem sua "judeidade". Indivpiduos e famílias que, "a despeito das evidentes diferenças societárias [e] culturais [...] todas tinham em comum importantes experiências e características, como herdeiras de um longo contato histórico entre povos de poder desigual" (p.18). Enfim, fica a dica do livro, para quem possa interessar.
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