A biografia de Maurice Lenhardt escrita por James Clifford é extremamente cuidadosa. Concebida de forma a aplacar toda a vida do antropólogo francês, ela não obedece unicamente a um eixo cronológico. Na verdade, Clifford não desconsidera a importância da cronologia, mas ela aparece mais como uma conseqüência do que como propósito central de sua abordagem.
O eixo estruturador da narrativa biográfica de Clifford respeita as temáticas e os embates da vida de Maurice Lenhardt, no que se refere grande conversão da vocação missionária para a antropológica. No entanto, esse processo não é tão simples e podemos afirmar que o mote maior do livro consiste em acentuar todas as nuances da construção do self biografado. Nesse sentido, Clifford afirma que seu maior intuito foi aplicar a teoria de Lenhardt sobre a pessoa melanésia para o próprio autor biografado.
Se retomarmos a teoria de Lenhardt sobre a pessoa melanésia, entenderemos que a noçõ de pessoa é algo misto entre a noção de indivíduo — muito comum nas sociedades ocidentais, regidas por uma lógica antropomórfica, em que as participações e/ou atuações sociais são regidas por uma racionalidade intrínseca — e a noção de personagem — típica de sociedades “arcaicas”, em que não há a concepção do eu como algo separado do ambiente vivo que o cerca. Nessas sociedades, consideradas cosmomórficas, as participações e/ou atuações sociais são orientadas pelo mito (cf. Clifford, 1997: 174/175).
De acordo com a teoria de Lenhardt, a pessoa melanésia sabe se diferenciar em parte do ambiente social do qual faz parte, mas ainda possui uma forte conexão com ele, que nunca é negada, operando simultaneamente com uma lógica racional e com o pensamento mítico. Da mesma form Clifford constrói a figura de Maurice Lenhardt: ele é ao mesmo tempo moldado pelos ambientes protestante e francês, pagão e canaque e carrega consigo todas as ambivalências e contradições de duas experiências tão singulares e tão intrincadas, o que pode ser visto na própria construção de suas identidades sociais, quer como o missionário em campo, que lê teoria antropológica e faz concessões religiosas, quer como o professor canaque, que ensina Religiões de Povos não Civilizados na Ecole des Hautes Études em Paris e nunca abandona sua preocupação missionária e seu compromisso com a colonização da Oceania.
Para a elaboração desse trabalho, James Clifford contou com o apoio dos filhos de Lenhardt, especialmente Raymond, que concedeu o acesso a textos não publicados de Maurice Lenhardt, cartas pessoais (que ele trocava sobretudo com o pai, com a esposa e com os amigos mais íntimos), notas de leitura do antropólogo e diversas matérias de jornal. Além disso, o autor também pode contar com a ajude de Roselène Dousset-Leenhardt que escreveu um pequeno texto autobiográfico, no qual procurava “retratar” o pai, Maurice, e toda a sua família nos anos 1920. Por fim, Clifford também contou com Mme Hilda Danon, que escreveu um estudo filosófico sobre Lenhardt.
O eixo estruturador da narrativa biográfica de Clifford respeita as temáticas e os embates da vida de Maurice Lenhardt, no que se refere grande conversão da vocação missionária para a antropológica. No entanto, esse processo não é tão simples e podemos afirmar que o mote maior do livro consiste em acentuar todas as nuances da construção do self biografado. Nesse sentido, Clifford afirma que seu maior intuito foi aplicar a teoria de Lenhardt sobre a pessoa melanésia para o próprio autor biografado.
Se retomarmos a teoria de Lenhardt sobre a pessoa melanésia, entenderemos que a noçõ de pessoa é algo misto entre a noção de indivíduo — muito comum nas sociedades ocidentais, regidas por uma lógica antropomórfica, em que as participações e/ou atuações sociais são regidas por uma racionalidade intrínseca — e a noção de personagem — típica de sociedades “arcaicas”, em que não há a concepção do eu como algo separado do ambiente vivo que o cerca. Nessas sociedades, consideradas cosmomórficas, as participações e/ou atuações sociais são orientadas pelo mito (cf. Clifford, 1997: 174/175).
De acordo com a teoria de Lenhardt, a pessoa melanésia sabe se diferenciar em parte do ambiente social do qual faz parte, mas ainda possui uma forte conexão com ele, que nunca é negada, operando simultaneamente com uma lógica racional e com o pensamento mítico. Da mesma form Clifford constrói a figura de Maurice Lenhardt: ele é ao mesmo tempo moldado pelos ambientes protestante e francês, pagão e canaque e carrega consigo todas as ambivalências e contradições de duas experiências tão singulares e tão intrincadas, o que pode ser visto na própria construção de suas identidades sociais, quer como o missionário em campo, que lê teoria antropológica e faz concessões religiosas, quer como o professor canaque, que ensina Religiões de Povos não Civilizados na Ecole des Hautes Études em Paris e nunca abandona sua preocupação missionária e seu compromisso com a colonização da Oceania.
Para a elaboração desse trabalho, James Clifford contou com o apoio dos filhos de Lenhardt, especialmente Raymond, que concedeu o acesso a textos não publicados de Maurice Lenhardt, cartas pessoais (que ele trocava sobretudo com o pai, com a esposa e com os amigos mais íntimos), notas de leitura do antropólogo e diversas matérias de jornal. Além disso, o autor também pode contar com a ajude de Roselène Dousset-Leenhardt que escreveu um pequeno texto autobiográfico, no qual procurava “retratar” o pai, Maurice, e toda a sua família nos anos 1920. Por fim, Clifford também contou com Mme Hilda Danon, que escreveu um estudo filosófico sobre Lenhardt.
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